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      Meu nome é Ana Idalina Carvalho Nunes, sou  bacharela e licenciada em Filosofia, especialista em Filosofia, Cultura e Sociedade,  mestra e doutoranda em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Juiz de Fora (MG). Nasci  em Cataguases (MG) na madrugada do dia 30 de dezembro de 1960, filha caçula de pai pedreiro e de mãe costureira. Aprendi desde dedo a costurar retalhos, versos, palavras e ideias - e meus três filhos participaram, desde cedo, da rotina de uma sala de costura cheia de livros, espaço onde tecíamos nossas boas conversas e onde nasceram ideias de projetos que empreendemos juntos.  Eu escrevi desde sempre. Tive uma infância de uma romântica pobreza: não tínhamos televisão, geladeira ou qualquer símbolo de conforto material - na nossa casa só havia livros, discos e um violão. No final das noites nos reuníamos na sala: meu pai, minha mãe, Zé Luiz ao violão, Paulinho, Penha e eu - cantávamos em várias vozes os cânticos católicos, fazíamos concursos de trovas e, quando não havia energia elétrica, brincávamos de formar desenhos com as mãos na parede através da luz de uma vela. Penso que, de uma forma diferente, essa dinâmica foi reproduzida na vida dos meus filhos, pois eles nutrem também o amor pelo estudo: a Universidade Federal de Juiz de Fora se tornou uma segunda casa para a filha primogênita (mestranda em Educação) para o segundo filho (doutorando em Ciências Sociais) e para a caçula, formada em Ciências Humanas e em Turismo pela UFJF.  

      Editei, entre 1994 e 2000,  a revista de literatura e arte "Pensaminto", voltada para poetas, escritores e artistas da rede alternativa no Brasil e exterior.  Em 2001 publiquei meu primeiro livro de poesia e minicontos, intitulado "Quase pecado" e em 2010 veio o segundo do mesmo gênero, intitulado "Meandros".  Entre 2001 e 2002 atuei como coordenadora municipal de cultura da cidade de Cataguases (2001-2002), período em que criei o projeto "Cultura nos bairros" que implantou bibliotecas em seis bairros e um distrito da zona rural, levando, mensalmente, uma caravana com rodas de leitura, aulas de dança de rua, dança de salão, capoeira, teatro e artesanato para as sedes das bibliotecas. Fui a fundadora e diretora-presidente do VENCER: Instituto de Valorização da Ética na Conduta e Relacionamentos (2007-2009), organização não governamental que buscava levar o desenvolvimento da inteligência emocional para crianças, adolescentes e suas famílias no bairro onde fui criada e adjacências. A ong mantinha quatro projetos:  1) Faz-de-conta (contação de histórias e rodas de conversa para crianças com idade entre 4 e 7 anos); 2) Aprendiz de Cidadão (em parceria com as Faculdades Doctum, levava aulas de informática e orientações sobre alimentação e saúde para crianças na faixa etária entre 8 e 14 anos); 3) Linguagem Ética no Trabalho - LÉTRA (em parceria com as Faculdades Integradas de Cataguases, preparava jovens com idade a partir de 15 anos para o mercado de trabalho); 4) Chá com Leitura (organização de um lanche da tarde para as mães e responsáveis pelas famílias dos alunos do VENCER, com roda de conversa, leitura e produção de poesia).

      Depois de ter uma graduação interrompida em Letras (por dificuldades financeiras), consegui ingressar na universidade em 2010,  aos 49 anos de idade, onde continuo ainda hoje. Toda a minha trajetória acadêmica foi construída na UFJF. Apesar da minha formação em Filosofia, eu tomo a liberdade de afirmar que sou antropóloga, pois sempre senti movida a buscar enxergar a vida pelos olhos das outras pessoas, sempre fui movida pela necessidade de compreender os fenômenos, os costumes e a forma de pensar dos diferentes grupos sociais, ou seja, sinto-me impelida a me colocar no lugar dos mais diferentes grupos sociais, para sentir o que os outros sentem, tentar enxergar o que eles veem e chegar a compreender  os significados que constroem e os sonhos que movem  diferentes pessoas.  

       Cursando  a fase final do meu  doutorado em Ciências Sociais, hoje eu estudo as trajetórias juvenis no ambiente digital do game Free Fire e busco compreender a forma como os gamers atualizam seus projetos de vida e ressignificam o mundo a partir do campo de batalha do jogo. Atuo também como pesquisadora do Laboratório de Antropologia Visual e Documentário (LAVIDOC/UFJF). Apesar de estar totalmente envolvida com o meu tema de doutorado, vez ou outra voltam a sangrar as cicatrizes emocionais do tempo em que trabalhei e atuei como pesquisadora na prisão e eu percebo que ainda há muito o que refletir sobre o que eu vi e vivi enquanto eu desenvolvia a minha pesquisa de mestrado, que buscava explicar a dinâmica de ressignificação do 'eu' de homens encarcerados, sob a influência do discurso religioso.  Em uma trajetória acadêmica ininterrupta desde 2010, o meu contato direto e cotidiano com a realidade da prisão se deu por  quatro anos, dois dos quais atuando como professora de Filosofia, Sociologia e Arte (2012-2013), período em que também desenvolvi a minha pesquisa de especialização em Filosofia, Cultura e Sociedade (2013-2014), tomando como sujeitos os estudantes da escola prisional. A monografia final veio a ser publicada em 2017, sob o título "Criminalizar para punir: a dinâmica de neutralização da juventude pobre e negra no Brasil". Embora tenha iniciado o  mestrado em 2015, foi entre 2016 e 2017 que passei a ter um contato mais direto com os espaços internos do presídio e consegui entrevistar diretores, agentes de segurança, psicólogos, grupos religiosos, em suma: todos aqueles que mantinham um contato cotidiano com os homens encarcerados do presídio de Cataguases. Tive a autorização para frequentar as galerias do presídio diariamente por quatro meses e, nesse ínterim, consegui entrevistar 71% da população carcerária às portas das celas (128 homens). A dissertação foi defendida em maio de 2017, sob o título "Discurso religioso no cárcere: caminhos e possibilidades". O diário de campo produzido durante a incursão nas galerias e outras anotações feitas durante o período em que atuei como professora na prisão  foi publicado em dezembro de 2023 sob o título "À porta das celas: diário de campo de uma etnografia na prisão".

      Ter atuado como professora e pesquisadora na prisão  foi de fundamental importância para o desenvolvimento dos meus estudos, as duas funções se entrelaçaram e possibilitaram um trabalho de entrega total, em que  a professora direcionava os passos da pesquisadora, tanto quando a pesquisadora guiou o meu olhar sobre cada aluno durante as aulas que ministrei na escola prisional. O vínculo entre professores e alunos na prisão é de grande confiança e respeito e o clima de confiança que marcou as  minhas interações com os alunos nos anos em que atuei como professora favoreceu grandemente o desenvolvimento da pesquisa da especialização (sobre o perfil de alunos da escola prisional). O interesse em compreender a questão do encarceramento no Brasil surgiu dessas interações com os homens privados de liberdade na sala de aula, pois as disciplinas que eu ministrei abriam espaço para muitas rodas de conversa e, nesse espaço de descontração, os alunos se sentiam à vontade para relatarem suas  histórias de vida e até mesmo para desabafos sobre situações do cotidiano na prisão, mesmo sob o olhar vigilante dos agentes penitenciários à porta das salas. Algumas vezes, até eles participavam das conversas.

      Nessa dialética entre a professora e a pesquisadora, eu construí ali mesmo, na sala de aula, o meu projeto de pesquisa de especialização, com base em observações que eu anotava diariamente em uma espécie de diário de aula. Assim, a partir da identificação do perfil dos alunos da escola prisional, eu me propus a discutir a questão do encarceramento em massa da juventude pobre e negra do Brasil, sob as teorias de Loïc Wacquant. Aliás, mesmo abandonando o cargo de professora, em dezembro de 2013, as questões que envolviam o encarceramento continuaram me trazendo uma certa inquietação, razão pela qual vim a desenvolver, durante o mestrado, a pesquisa sobre o processo de ressignificação do 'eu' de homens encarcerados, a partir da influência do discurso religioso proferido às portas das celas. Para tentar compreender as interações entre os grupos religiosos e os homens privados de liberdade, foi de fundamentall importância guiar teoricamente as análises pela teoria interacionista de Erving Goffman, tomado como ponto de partida o  conceito de 'instituições totais', desenvolvido por ele em sua obra "Prisões, manicômios e Conventos" (1961) e trazendo um maior aprofundamento do olhar através de obras suas como "A representação do eu na vida cotidiana"(1956) e ""Ritual de interação: ensaios sobre o comportamento face a face" (1967). Importante ressaltar que a  conduta ética na interação com alunos e com os diversos profissionais que atuam na prisão, bem como o respeito às normas institucionais e o bom resultado do trabalho na escola  serviram como  carta de apresentação para a minha penetração dentro das galerias do presídio, durante a pesquisa de mestrado. 

          Durante o período que compreendeu a minha atuação como professora e como pesquisadora, desenvolvi projetos literários com os alunos da escola prisional, que resultaram na publicação de três livros: "Poetas da liberdade", uma antologia que reúne poemas de 47 alunos da escola prisional (2013);  "Tapa de Luva", livro com a reunião de poemas que me eram entregues, durante as aulas, pelo aluno Cleiton Zulato (2014); e “Lições de Principiante: reflexões filosóficas sobre o meu encontro com Deus no exílio” (2016),  produzido a partir de textos escritos na cela e enviados a mim através de cartas, entre 2013 e 2014, quando eu já não fazia parte do corpo de professores da escola. Marco Aurélio da Silva Machado obteve a sua liberdade ainda em 2014 e, dessa forma, foi possível organizar uma noite de autógrafos na igreja da qual ele fazia parte.  Vale ressaltar que, tanto a antologia poética quanto os  outros dois livros foram publicados com o apoio financeiro de professoras da escola prisional e de pessoas que se preocupam com a questão do encarceramento e com a reintegração social dos indivíduos encarcerados.

       Em 2018, após a conclusão do mestrado, eu retomei o meu trabalho como professora de Filosofia, atuando na rede particular de ensino na cidade de Cataguases (MG), período em que publiquei o livro didático  "Pensar filosoficamente", que foi adotado pelo Colégio Soberano e que hoje é  utilizado por professores da rede pública e privada, como material de apoio para a preparação de aulas e atividades para a formação do pensamento autônomo.  O livro busca levar para os estudantes uma metodologia voltada para o desenvolvimento do pensamento e da atitude filosófica, através de  conhecimentos sobre a dialética, a retórica, a organização do raciocínio e a construção da argumentação. Seu propósito é formar jovens preparados uma vida mais reflexiva e participativa enquanto cidadãos.

         Em 2019 obtive a primeira colocação no processo seletivo para o doutorado em Ciências Sociais (UFJF), com um projeto que buscava identificar o processo de atualização dos dois mundos - o digital e o atual - a partir das interações em um game para aparelhos celulares, o Battle Royale Free Fire.

       Mesmo dentro do doutorado, publiquei capítulos sobre educação prisional em dois livros: Vidas em curso no cárcere (2018) e Desenvolvimento Humano (2021) e, além disso, participei das duas últimas versões do Seminário Internacional de Pesquisa em prisão (2022 e 2023) apresentando trabalhos sobre a minha vivência enquanto professora e pesquisadora. Em dezembro de 2023 publiquei, pela Paco Editorial, o meu diário de campo de mestrado, sob o título: À porta das celas: diário de campo de uma etnografia na prisão".  No prelo para lançamento neste ano de 2024,  o livro "Percursos etnográficos, teoria e método na pesquisa em ambientes digitais", traz como organizadores Diego Lucas Nunes de Souza e eu, Ana Idalina Carvalho Nunes. A obra reúne capítulos que envolvem estudos cujo campo de pesquisa é o ambiente digital.

REFERÊNCIAS NA MÍDIA
PROJETO ESCOLA PRISIONAL
1. Canal no Youtube:  Profª Idalina Carvalho Nunes .  https://www.youtube.com/channel/UCeNmpjmDeicUUIxL16T2Lqg?view_as=subscriber 
2. Blogger de Idalina de Carvalho: http://idalinadecarvalho.blogspot.com.br/
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22. Moção de congratulação Câmara Municipal de Cataguases, vereadora Dra. Maria Ângela Girardi. http://cmcataguases.com.br/vereador/projetos/12/moapl/
24. Biblioteca digital brasileira de teses e dissertações: http://bdtd.ibict.br/vufind/Record/UFJF_74530f03684b9ebb117ae234934f6b28
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PRINCIPAIS REFERÊNCIAS

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CARDOSO DE OLIVEIRA,  R. O trabalho do antropólogo. São Paulo: Paralelo XV, Ed UNESP; 2000.

CARDOSO, Ruth C. L. Aventuras de antropólogos em campo ou como escapar das armadilhas do método. In: CARDOSO, Ruth (Org.).  4ª ed.  A aventura antropológica: teoria e pesquisa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986.

GOFFMAN, E. A representação do Eu na vida cotidiana. Vozes : Petrópolis, 2002.

 

_____. Estigma - notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. 4ª ed. Rio de Janeiro : Guanabara, 1988.

 

_____. Manicômios, prisões e conventos. 9ª ed. São Paulo : Perspectiva, 2015.

 

_____. Ritual de interação : ensaios sobre o comportamento face a face. tradução de Fábio Rodrigues Ribeiro da Silva. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.

ORLANDI, Eni.  Análise de Discurso: Princípios & Procedimentos. 6. ed. Campinas, SP: Pontes, 2005.

PÊCHEUX, Michel.  Semântica e Discurso: uma crítica à afirmação do do óbvio. Tradução de Eni Puccinelli Orlandi et. al. 2.ed. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 1995.

 

____. O Discurso: Estrutura ou Acontecimento. Tradução de Eni Puccinelli Orlandi. 5. Ed. Campinas, SP: Pontes, 2008.

RUSCHE, George; KIRCHHEIMER, Otto. Punição e Estrutura social. 2 Ed. Rio de Janeiro: Editora Revan, Instituto Carioca de criminologia, 2004.

WACQUANT, Loïc. Punir os pobres – A nova gestão da miséria nos Estados Unidos 3 ed. Rio de Janeiro: Editora Revan, Instituto Carioca de Criminologia, 2007.

 

___________. As duas faces do gueto. 1 ed. São Paulo: Boitempo editorial, 2008.

 

___________. As prisões da miséria. Trad. André Telles. Rio de Janeiro: Jorge Zahar editora, 2001.

 

___________. A criminalização da pobreza. Mais Humana, dez. 1999. Disponível em: http://www.uff.br/maishumana/loic1.htm. Acesso em 15 de junho de 2014.

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